sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Bus Márqui

“Bom dia senhores passageiros. Eu podia estar nas ruas para estar roubando. Eu podia estar nas ruas para estar matando. Eu podia estar nas ruas para estar usando drogas. Mas estou aqui neste ônibus para estar pedindo um minuto da atenção de vocês.”
Pausa
“Durante oito anos pude cuidar da minha mãe doente com o dinheiro que ganhava em uma empresa de cóu center, também conhecida como empresa de telemárqui. Porém quando fui estar fazendo a prova para poder estar me tornando a gerente um grave acidente ocorreu e o chefe quando viu que havia estourado disse que, além de não assumir o filho, ainda me botava pra rua se a barriga crescesse. E por isso estou aqui senhores passageiros, para estar apresentando para vocês a empresa que estive criando durante os meses de gestação para poder cuidar da minha mãe e do meu filho. Dessa maneira vocês podem estar comprando aqui o meu chicrete e minha bala através do inovador sistema da Gilcicleide Bus Márqui. Neste momento vou estar distribuindo algumas placas numeradas.”
Pausa
“Para estar adquirindo o chicrete de caixinha que custa apenas 50 centavos, levante a placa número 1”
“Para estar adquirindo a bala macia que custa apenas 50 centavos, levante a placa número 2”
“Para estar adquirindo o drops halls que custa apenas 1 real, levante a placa número 3”
“Para estar sabendo de promoções leve 3 e pague 2, levante a placa número 7”
“Para estar dando sugestões de outros produtos que gostaria que estivesse sendo oferecido, levante a placa número 8”
“Para estar falando comigo, levante a placa número 9”
“Para repetir o menu, levante a placa com o símbolo do jogo da velha”
Um rapaz no fundo do ônibus acena para Gilcicleide para que ela se aproxime.
“Senhor, antes de eu estar me dirigindo a seu assento, queira por gentileza estar levantando a placa com o número do produto solicitado”
Com um jeito sem graça o rapaz levanta a placa com o número 9. Gilcicleide se aproxima e diz:
“Gilcicleide Bus Márqui sempre inovando para melhor lhe atender bom dia com quem eu falo?”
“Eu só quero devolver as plaquetas”
“Pois não senhor, qual é seu nome?”
“Cristiano” – responde o rapaz tentado entregar-lhe as placas.
“Senhor Cristiano, o senhor poderia estar me dizendo por que não vai querer estar aproveitando a oportunidade de comprar as balas e chicrétis?”
“É que vou descer no próximo ponto”
“Pois não senhor Cristiano. O senhor teria alguma sugestão ou reclamação a fazer a respeito do serviço que lhe está sendo oferecido?”
“Não, minha senhora!! Eu só quero que você pegue as placas!!”
“Pois não senhor Cristiano. Antes de me entregar as placas gostaria de indicar algum amigo que gostaria de estar aproveitando a promoção para compra de balas e chicrétis?”
“É claro que não, não ta vendo que estou sozinho! Peraí motorista!!! É aqui que eu vou descer!!!”
Finalmente a mulher pega de volta as placas e antes do rapaz descer furioso segura seu braço e diz:
“A Gilcicleide Bus Márqui sempre inovando para melhor lhe atender agradece sua atenção e tenha um bom dia!”
Gilcicleide volta para o centro do ônibus e avista uma senhora que levanta a placa número 2.
“Pois não minha senhora, Gilcicleide Bus Márqui sempre inovando para melhor lhe atender lhe deseja um bom dia. Para estar pedindo bala macia sabor abacaxi, por favor levante a placa número 2, para estar pedindo bala macia sabor morango, por favor levante a placa número 3, para estar pedindo bala macia sabor frutas ‘críticas’, por favor levante a placa número 4”
A mulher levanta placa número 4.
“Queira aguardar um minuto, por favor”
Ela remexe a caixa e depois tira um papel do bolso. Lê atentamente e diz:
“Obrigada por ter aguardado. Infelizmente a bala macia sabor frutas ‘críticas’ está em falta no dia de hoje.”
“Então por que me entregou a placa com o número dela?”
“Senhora, nós trabalhamos com uma rígida padronização de nossos serviços para estar buscando sempre a satisfação do cliente, mais alguma dúvida?”
“Queria saber se tem a bala de morango?”
“Para estar fazendo um pedido favor levantar a placa com seu respectivo número.”
“Toma então essas placas! Não quero comprar mais nada! Enfia essas placas no....”
“Senhora, gostaria apenas de estar lembrando que trago em meu bolso um mini gravador e para a sua própria segurança esta conversa pode estar sendo gravada.”
“Então enfia na sua bolsa, mas não quero mais saber de comprar merda nenhuma!”
“Tudo bem senhora, a Gilcicleide Bus Márqui sempre inovando para melhor lhe atender agradece sua atenção e tenha um bom dia!”
Gilcicleide volta para o centro do ônibus e aguarda durante mais três minutos. Então ela olha o relógio, tira uma calculadora do bolso, faz algumas contas e diz:
“Caros senhores passageiros, como não houveram mais pedidos, estarei passando nos assentos para recolher as placas juntamente com a tarifa de três reais e vinte e três centavos...”
“Como assim tarifa? Você pirou?”- grita um jovem no fundo do ônibus.
“É simples meu senhor: estou há sete minutos dentro do ônibus, o que pela tarifa de trinta e sete centavos por minuto mais impostos descrita nestas letras pequenas no verso da placa com o símbolo do jogo da velha dá a quantia de três reais e vinte e três centavos para cada pessoa que esteve em poder das placas durante este tempo.”
Enquanto era jogada para fora do ônibus em movimento pelos passageiros, Gilcicleide ainda tentava argumentar:
“Acalmem-se senhores, estou apenas cumprindo o regulamento. Estou apenas fazendo o meu trabalho....”


***escrito originalmente em 09/09/2005

2 comentários:

Anônimo disse...

Vou estar rindo do seu texto
heheeh
cheers!

Unknown disse...

:-D Totalmente Sensacional!

Alexandre Kirwan